Farmácia islâmica que existia no interior de um palácio de Damasco no século XIX, que terá funcionado como centro de ensino e botica.
A farmácia é composta por um teto original disposta em torno de uma grande peça central dourada moldada, encerando nos seus nichos, miríades de pequenos espelhos que refletem a luz em todas as direções. As paredes são esculpidas e decoradas com estuque dourado e policromado, pintadas com uma série de arabescos, painéis de desenhos florais e arquitetónicos e ainda inscrições
Tughras invertidas, de modo a serem vistas em espelhos.
Desde o século IX que Damasco assumiu uma importante componente no desenvolvimento do ensino e do exercício da farmácia e da medicina islâmicas. A assistência medico-farmacêutica era exercida em hospitais, leprosarias, boticas e em palácios, para todos os que necessitavam de cuidados de saúde, independentemente da sua religião, riqueza ou estatuto social.
Nos palácios, a existência de uma farmácia era essencial, não só para os residentes internos, mas também para a população de zonas limítrofes aos palácios. A prestação de cuidados de saúde aos mais necessitados era parte essencial da alma da cultura islâmica, suportada pelos califas, sultões e altos dignitários da sociedade.
A farmácia no interior do palácio estava organizada em duas áreas: biblioteca medico-farmacêutica e a área dedicada à conservação de medicamentos. A produção de substâncias terapêuticas encontrava-se geralmente afastada do edifício principal, por questões de segurança e de odores.
Outra área dedicada à saúde eram os jardins. Estes eram constituídos por diversas fontes e espaços abundantes de água a circular, que provocariam uma sonoridade essencial ao tratamento de doenças nervosas e do foro psiquiátrico.
O corpo de profissionais dedicados à prestação de serviços variava em número e em especialidades, consoante a dimensão do palácio e à importância político-social do seu proprietário. Farmacêuticos, médicos, cirurgiões, oftalmologistas, músicos e cantores eram as categorias ligadas à área da saúde.
No interior desta farmácia, junto ao teto, surgem inscrições invertidas para serem lidas nos espelhos, com o nome do mestre sufi
'Abdal-Qadir Jilani (m 1166 AD), fundador da ordem
Qadiriya (tariqa), apelando ao estudo e ao conhecimento.
O espaço farmácia constitui-se assim um local de ensino e debate das correntes científicas, dos mestres árabes medievais como
IbnSina, al-Majusi e Ibn
al-Baytar, e dos médicos e farmacêuticos contemporâneos como
Ahmad ibn Muhammad al-Salawi (1791-1840).
Ao longo do século XIX, as correntes tradicionais islâmicas da farmácia e da medicina continuaram a coexistir com a ciência moderna europeia.
Madeira esculpida, pintada e dourada
Damasco, Síria
Século XIX
N.º Inv. 15213
Data de incorporação: abril de 2010